terça-feira, 27 de março de 2012

O que é Antropofagia

No caso de Tarsila do Amaral, o procedimento poético de sua pintura, dita antropofágica (1928 a ca.1929) - que além do Abaporu, compreende também O Ovo [Urutu], 1928, A Lua, 1928, Floresta, 1929, Sol Poente, 1929, Antropofagia, 1929, entre outras, e da qual A Negra, 1923 é considerada precursora - caracteriza-se pela "desarticulação da forma construtiva", mediante a submersão na "materialidade cultural" brasileira. Sem esquecer o aprendizado moderno de redução formal e planificação do espaço pictórico, a artista cria, com o uso estilizado de formas arredondadas e cores emblemáticas (principalmente tons fortes de amarelo, verde, azul, laranja e roxo), um alegre universo "selvagem", que se liga a um mundo onírico, mágico (das lendas indígenas e africanas), primitivo, profundamente enraizado na cultura popular brasileira. Entretanto, vale lembrar, seguindo a argumentação de Sônia Salzstein, que a fase "antropofágica" de Tarsila não deve ser considerada como simples ilustração de uma teoria. Seu próprio desenvolvimento artístico a teria levado a esse momento de relação crítica com o aprendizado francês, de certa forma antevendo plasticamente a plataforma antropofágica oswaldiana.

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